Pesquisa mostra que é possível regionalizar merenda

Compartilhar:
Mudar os hábitos alimentares das crianças atendidas em uma instituição filantrópica, localizada no centro de Manaus, tem sido um dos desafios da pesquisadora e nutricionista Dionísia Nagahama, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). É lá que ela experimenta, há mais de três anos, receitas com ingredientes regionais, mas que, muitas vezes, não fazem parte da rotina alimentar das famílias amazonenses. Esse é o caso de hortaliças e frutas não convencionais, como cariru, feijão macuco, bertalha e cubiu. “A alimentação infantil é a base do nosso trabalho. Ensinamos para as crianças e para os pais que a comida pode ser variada, com alimentos regionais e saudáveis. Muitos frutos amazônicos substituem em valores nutricionais frutas como a maçã, que não é originária da região”, afirma. A pesquisadora conta que, com o projeto, a instituição conseguiu recursos para a reativação da horta para o cultivo das hortaliças, utilizadas na merenda. A regionalização da merenda escolar, explica a pesquisadora, não é novidade no Amazonas, que desde 2003 já desenvolve ações em parceria com várias instituições para promover a alimentação saudável com ingredientes da região. Dionísia apresentou sua experiência no 1º Encontro Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia, em Belém. Outros participantes também tiveram a chance de refletir e discutir as estratégias para a promoção da soberania e segurança alimentar e nutricional, como o Guia Alimentar para a População Brasileira, o livro Alimentos Regionais Brasileiros e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), além das ações de inclusão produtiva rural e valorização da sociobiodiversidade. Divididos em grupos de trabalho, eles dialogaram sobre Como os programas, ações e políticas têm ajudado a transformar a vida dos povos da Amazônia?” e “O que pode ser transformado e inovado para tornar essas ações mais efetivas?”. Destaque nas discussões, o Guia Alimentar para a População Brasileira é um marco de referência tanto para as famílias como para governos e profissionais de saúde. O documento passou por um amplo processo de consulta pública, e aborda os princípios e as recomendações para uma alimentação adequada e saudável. Segundo Maria Fernanda Moratori, da coordenação-geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, que participou de um dos grupos de trabalho, o desafio ainda é promover essa alimentação, principalmente nas escolas. “A ideia é que os professores possam trabalhar o tema de forma interdisciplinar desde o ensino fundamental”, explicou. No debate, um dos exemplos citados foi o projeto “Educando com a Horta Escolar e a Gastronomia”, parceria entre o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e o Centro de Excelência em Turismo da Universidade de Brasília (CET/UnB). A iniciativa é voltada para nutricionistas, coordenadores pedagógicos, técnicos para meio ambiente e horta, coordenadores de alimentação escolar e representantes do Conselho de Alimentação Escolar. Assim, são formados multiplicadores nos estados e nos municípios para que a horta e a gastronomia sejam utilizadas como eixos geradores da prática pedagógica, além de promover hábitos alimentares saudáveis e valorizar receitas regionais e técnicas de preparo de alimentos. Agenda – O 1º Encontro Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional na Amazônia é promovido pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), com o apoio da Câmara Interministerial de Segurança Alimentar e Nutricional (Caisan), coordenada pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). O evento termina nesta quinta-feira (11), com o debate e a apresentação da Carta Amazônica. O encontro temático é o primeiro de uma série preparatória para a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Com o tema “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”, a conferência nacional será promovida em Brasília, entre os dias 3 e 6 de novembro. Fonte: MDS.