Contabilidade em 30/10/2009

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As empresas brasileiras que visam o mercado internacional precisam se adequar ao chamado IFRS (International Financial Reporting Standard). Um dos palestrantes que apresentou o tema durante o XX Conef foi o ex-chairman do International Accounting Standards Committee, organização internacional que publica e atualiza as normas de contabilidade, Nelson Carvalho.

O POVO - Qual o grande impacto do IFRS nas empresas brasileiras?
Nelson Carvalho - Você tem duas iniciativas necessárias que já estão acontecendo. A primeira delas é o esforço interno de cada empresa de preparar-se para a total convergência com as normas internacionais. A segunda consequência, em fase de consolidação, é a empresa usar essa informação mais transparente para captar recursos. Então, objetivamente, uma empresa de boa qualidade, que se apresenta com mais informação, capta mais barato. O custo do empréstimo e o valor das ações passam a ser extremamente favoráveis. Estive com uma companhia aberta brasileira que lança títulos de dívidas no Exterior. Ela disse: -eu não estou pronta para o IFRS ainda. Estou captando com 8,75% ao ano em dólar. Se tivesse pronta para o IFRS, captaria com 6,5%, 7% ao ano-. Um e meio a dois pontos percentuais de diferença em um lançamento de
US$ 500 milhões significa que ela teria mais dinheiro para investir em atividade operacional. É este custo que queremos reduzir.

O POVO - O que faz com que as empresas não estejam prontas?
Nelson Carvalho - O processo preparatório é lento, é custoso, é multidisciplinar. Ele envolve mudança de sistema de informática, operação de programas de computador de grande porte e principalmente um desafio de mudança de mentalidade. Você não está mudando um plano de contas contábeis, você está mudando a forma pela qual a empresa é gerida. Você tem todo um desafio compreensível, e não intencional, de resistência psicológica. O ser humano só gosta de mudança quando ele vê o benefício na hora.

O POVO - No Brasil, como há muitas empresas familiares e outras com capital fechado, como se dará essa preparação?
Nelson Carvalho - Se a empresa familiar ou de capital fechado não precisa recorrer aos mercados financeiros não precisa se adaptar. Se é capital fechado, não tem emissão de ações. Se não precisa de capital bancário, deve continuar sua vida normalmente, porque não terá o benefício. Ela vai ser obrigada pela lei, mas não terá o benefício da transição. Se for em busca de crédito, os bancos passarão a exigir. O tempo para isso vai depender de cada banco. Acho que o segmento de grandes empresas, o chamado big business, está esperando, nos próximos três a seis meses, que seus grandes clientes fechados ou limitados que recorrem a crédito tenham a disponibilização de informações transparentes.

Fonte: O POVO Online