O Brasil cresce e muda a vida de pessoas e empresas

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De segunda a segunda, ruas lotadas com pessoas saindo pra jantar. Buenos Aires ou São Paulo? Não, Assunção, onde a noite, nos últimos tempos, lembra a movida madrilenha. Mansões minimalistas de concreto e vidro de frente para o mar, por quilômetros do litoral. Os Hamptons ou Saint Barth? Não, Jose Ignacio, em Punta Del Este, no Uruguai, onde nada menos do que 70 prédios _sem contar com dezenas de casas de altíssimo padrão_ estão sendo erguidos. Quilômetros e quilômetros de linhas do metrô em ampliação e oito shoppings sendo concluídos até o próximo ano. Nova Déli ou Pequim? Não, Buenos Aires, onde a recuperação econômica desafia até mesmo o mais cético dos portenhos.

Na semana em que se completam 20 anos da assinatura do Tratado de Assunção, que consolidou a criação do Mercosul, o iG convida o leitor a descobrir como paraguaios, uruguaios e argentinos estão saboreando o melhor momento econômico das últimas décadas. Na primeira série de reportagens do projeto Expedições iG, você entenderá como o controle da inflação, a democracia e o crescimento contínuo do Brasil estão mudando a vida de pessoas e empresas dos nossos mais próximos vizinhos.

Exatos 20 anos após a criação do bloco econômico, o Brasil se tornou a grande locomotiva que puxa o crescimento de toda a região. Segundo estimativas da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe das Nações Unidas (Cepal), apenas quatro países da América Latina cresceram mais que o Brasil em 2010. Deles, três são os parceiros do Mercosul, com o Paraguai na liderança: alta de 9,7% no ano. O país foi seguido por Uruguai (9%) e Peru (8,6%). A Argentina, segundo dados oficiais do país, cresceu 9,2%. O Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, teve expansão de 7,5%.

Os números impressionam. Segundo projeções da agência de classificação de risco Moody’s, a América Latina teve, no ano passado, a maior expansão dos últimos dez anos. “O gigante brasileiro domina a região. Se vai bem, os demais também vão bem”, diz Alfredo Coutinho, economista da Moody’s. Para ele, o Brasil teve um peso entre 70% e 80% da evolução de Paraguai, Uruguai e Argentina. “A mesma expansão deve acontecer este ano. E o inverso também é verdade. Se o Brasil tiver retração econômica, os vizinhos vão sentir.”

Números do Banco Central (BC) mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresce há quase 20 anos, desde 1992. A exceção foi 2009, quando a queda de 0,64% refletiu, ainda que de leve, a crise mundial. O Brasil, com seus quase 200 milhões de habitantes, ajudou a dinamizar a economia dos 40 milhões de argentinos, 6,5 milhões de paraguaios e 3,3 milhões de uruguaios. Um passeio pelas capitais do Mercosul mostra cidades vibrantes, canteiros de obras e desafios em infraestrutura por toda a parte.

As exportações de commodities, produtos agrícolas e pecuária foram o grande motor do Mercosul, que vendeu sua produção sobretudo à China. Segundo os números mais recentes da Cepal sobre o grupo de livre comércio, em 2009 os principais produtos exportados pelo bloco foram soja, minério de ferro, massas, petróleo, automóveis e açúcar. A criação do bloco parece ter dado certo, sobretudo quando se olha a exportação dos principais produtos, os bens primários. Do total das vendas externas da Argentina em 2009, 68% eram produtos primários. E seus principais parceiros comerciais foram os vizinhos: dos produtos primários importados pelo Brasil, 61% vieram da Argentina. No Uruguai esse índice atingiu 71,3%. E 92% das importações de bens primários do Paraguai.

No comércio intrarregional de bens, os vizinhos vendem mais entre si, segundo a Cepal. Do total de R$ 61 bilhões exportados pela Argentina em 2009, quase metade ficou com América Latina e Caribe. O Paraguai vendeu aos vizinhos 46% dos R$ 10 bilhões exportados e o Uruguai deixou na região 43% de seus R$ 12,7 bilhões. Entre todos, o Brasil é o menos dependente: vendeu aos vizinhos apenas 15%, dos R$ 220 bilhões exportados. É por índices assim que o Brasil ajuda a puxar o desenvolvimento dos outros países, numa escala até maior do que o benefício que obtém com as vantagens fiscais do Mercosul.

Apesar dessa força exportadora, é impossível não incluir na conta do desenvolvimento uma componente política. Desde que a Argentina conseguiu a proeza de ter sete presidentes em três anos, entre 1999 e 2002, o Mercosul nunca viveu tamanho período de normalidade democrática. Além disso, as influências de políticas internas fiscais e estímulos dos governos de cada país, com medidas anticíclicas e de distribuição de renda, ajudaram a manter um ritmo de consumo interno que não foi visto em países desenvolvidos, dizem os analistas.

Fonte: IG notícias