O recuo do IPCA em outubro foi sinal positivo aos brasileiros temerosos com a escalada da inflação, mas foi principalmente alento ao Banco Central, porque indicou que o ato de iniciar um ciclo de corte de juros em agosto – considerada então ação ousada demais por personalidades do mercado financeiro – comprovou-se plausível e, por enquanto, certeira. O cenário traçado pelo BC foi de que a crise europeia faria a economia desacelerar e, por consequência, a inflação perderia fôlego.
Com a divulgação do IPCA de outubro ontem, a inflação acumulada em 12 meses finalmente recuou, depois de longa escalada até chegar ao pico de 7,31% em setembro. Até outubro foi de 6,97%, comprovando a previsão do Banco Central de que, até o fim do ano, esse índice encolheria. A expectativa do BC, agora com probabilidade maior, é de que o IPCA encerre o ano em até 6,5% - abaixo, portanto, do topo da meta de inflação do governo.
Comprovada pelo menos a tese de que a inflação acumulada recuaria – e até agravada pela deterioração da crise na Europa, que hoje vê uma situação perigosa principalmente na Grécia e na Itália – o presidente do BC, Alexandre Tombini, reforça sua posição de destaque na Esplanada dos Ministérios, galgada principalmente pela confiança crescente da presidenta Dilma Rousseff – com quem mantém contato praticamente constante, apesar da discrição de ambos.
IPCA volta a rondar taxa de 0,37% ao mês, que resultaria na meta anual de 4,5%
Com o recuo da inflação, o BC passou por aqueles exatos seis meses de agonia que já eram previstos em abril, conforme relatou o iG. A capacidade de previsão da autoridade monetária – em período de séria desconfiança do mercado financeiro quanto à manutenção do regime de metas de inflação, entre eles o seu antecessor Armínio Fraga – dá amparo maior à atuação de Tombini.
Apesar do respeito conquistado, o BC de Tombini tenta provar ainda que é previsível nas decisões que toma – característica relevante para a entidade ter maior eficiência na condução da política monetária, afetando expectativas futuras. O BC se congratula, por exemplo, de que em setembro o mercado futuro entendeu que o indicativo de que o ciclo de cortes na Selic seria “moderado” apontava nova redução de meio ponto percentual no juro – a mesma palavra foi adotada em discurso mais recente de Tombini, o que leva o mercado a prever novo corte idêntico no fim deste mês, para que a taxa de juro encerre 2011 em 11% ao ano.
Com a inflação mais controlada – ainda que em decorrência do agravamento da crise europeia, que desaquece a economia global – Tombini e o BC agora colhem elogios do mercado financeiro e percebem suas ações acompanhadas por instituições mundo afora (o Banco Central Europeu, surpreendentemente, também reduziu juros no início do mês).
Tombini a interlocutores: Contra a inflação não há argumentos, mas fatos
Os cortes de juros devem prosseguir porque, até maio, o BC aponta que a inflação acumulada em 12 meses deverá ser reduzida a cerca de 5,5% ao ano. Esse cenário de corte de juros com redução da inflação é possível porque o impacto de uma mexida na Selic tem defasagem de seis a nove meses na demanda. Daí também que os cortes iniciados em agosto visam a aliviar o impacto maior da crise europeia que ainda está por vir.
Afinidade com a presidenta
A força de Tombini à frente da autoridade monetária foi comprovada pelos fatos ao longo dos últimos meses. Tido como um nome menos “expressivo” do que seu antecessor, Henrique Meirelles, quando assumiu a presidência, Tombini provou que discrição não é sinônimo de falta de poder.
Tombini ganhou a confiança da Dilma Rousseff pelo seu perfil hermético e por ter argumentos sólidos para responder a todos os minuciosos questionamentos da presidenta. Para preservá-lo das críticas de que sofre pressões políticas, a própria Dilma costuma conversar com Tombini por telefone ou não indica oficialmente seu nome na agenda oficial quando eles se encontram pessoalmente – ação que é replicada por ele.
Como sinal do entrosamento atual da equipe econômica de Dilma, Tombini também visita o Palácio do Planalto com frequência – entrando e saindo pela garagem, sem ser visto – quando as agendas oficiais indicam encontros entre Dilma e o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Nessas ocasiões, ambos os ministros apresentam cenários a Dilma e defendem suas posições comuns sobre decisões a serem tomadas.
“Quando menos se falar melhor”
Ontem pela manhã a presidenta Dilma Rousseff foi questionada por jornalistas no Palácio do Planalto sobre o rumo da taxa básica de juros. Afirmou: “Quem responde sobre juros no meu governo é o ministro do Banco Central.” Segundo ela, “sobre juros, quanto menos se falar melhor”.
As declarações são nova evidência concreta do alinhamento entre a presidenta da República e o presidente do Banco Central. Ao longo do ano Tombini disse a interlocutores próximos - no período de agonia e, recentemente, no período de comprovação das teses do BC: “Contra a inflação não há argumentos, mas fatos.”
Independentemente dos percalços da política monetária atual, a promessa em vigor da autoridade monetária é de IPCA abaixo de 6,5% neste ano e, no fim de 2012, em torno de 4,5% o centro da meta de inflação.
Fonte: Danilo Fariello IG Brasília